INTRODUÇÃO (AO TEXTO)...RSSS. Com a entrada da Tiazinha no extinto programa “H” na Bandeirantes, projetou a imagem da dominadora e com isso a aceitação e a divulgação da prática SM aumentou consideravelmente, como descreve o Jornal Folha de São Paulo do dia 13 de setembro de 1998. Foi a partir dessa notícia que vou desenrolar minha explanação, citando alguns programas de reportagem, novelas, propagandas na TV e discutindo se isso foi realmente benéfico para nossa imagem ou se acaba criando uma falsa imagem, criando preconceito. Desta forma, entendo que a insistência de colocarem tais personagens como dominadoras, nada mais é, do que buscar ibope e utilizar o BDSM para vender e para chamar a atenção. BDSM pela psicologia. Segundo Valas (1994), existe um texto de Freud que não foi traduzido no Brasil onde ele analisa um caso de fetichismo por pés e conclui que uma estrutura comum de perversões é o fetichismo, voyeurismo e masoquismo. A perversão fetichista é a manifestação consciente, lembrança recalcada e não uma pulsão dominante, não é o falo e sim o que pode ocultar o fato da mulher não ter pênis, daí que se origina o valor erótico do fetiche, poupando-lhe a angústia da castração. Desta forma, se dá a fixação na imagem recalcada no inconsciente. Ainda Velas (1994), no resumo da gênese do masoquismo, o sujeito se faz objeto diante do parceiro, transformado em atormentador de seu fantasma, e goza pela erotização da dor infligida pelo parceiro. O sádico é um masoquista por procuração. Com a elaboração da teoria de pulsão de vida e de morte, o masoquismo sexual é um retorno a pulsão de morte. Durandin (1997) afirma que a propaganda recorre, dentre tantas outras técnicas e teorias, das teorias de Freud, para sua elaboração. Estuda as motivações inconscientes dos compradores potenciais, para explorá-los, deslocamento dos afetos dos inconsciente para o produto a ser vendido. Calazans (1992) explica que, na propaganda, o material apresentado (signo) tem como objetivo claro mostrar, transmitir, excitar ou informar sem disfarces e sem outras conotações. Mas na grande maioria das vezes, foram apresentados de forma camuflada ou de forma subliminar definido e por ser “qualquer estímulo abaixo do limiar da consciência, estímulo que - não obstante - produz efeito na atividadepsíquica”. Os estímulos sexuais ou eróticos na propaganda subliminar são usados para seduzir o consumidor a comprar um produto. BDSM na propaganda: Propaganda subliminar Uma das propagandas da Bombril aparece o ator Carlos Moreno com um porquinho com máscara de Dominador. Algumas situações podem nos remeter a uma fantasia BDSM, como por exemplo, a ninfeta do refrigerante “Sukita” ® que humilha um senhor que faz tudo para ela querendo conquista-lo e ela num tom irônico o chama de “Tio” se pensarmos em uma cena de humilhação, ou a propaganda do “OuroCard” ® onde aparece uma linda mulher fazendo massagens nas costas de seu marido, que se encontra deitando no chão e ela pisa em suas costas, lembrando uma cena de pisoteamento (Trampling). O Vídeo-Clip como propaganda Marcondes Filho (1988), fala que no vídeo clip é passado idéias subliminares para o inconsciente. Coelho Netto (1995) coloca o vídeo-clip como uma propaganda contínua, e diz que na MTV não existe comercial, pois toda programação é um grande comercial, o vídeo-clip é o próprio comercial. Vamos citar alguns exemplos onde temos o uso de cenas que nos remete ao BDSM e começamos porfetichismo por pés, que como vimos, Freud considera que existe uma associação entre fetichismo epodolatria, no estudo que ele fez de “Um caso de fetichismo por pés”. Podolatria - Clip de Neneh Cherry “Kootchi” Man. Dir: Jean Batiste Modino. O nome co clip é cócegas, uma das práticas de tortura do BDSM. Este clip apresenta uma sessão de podolatria explícito, mostra o sonho da cantora, que está deitada numa cama com seus pés para fora da cama, descalça e a porta do quarto dá para um corredor longo. Deste corredor surgem vários homens, que vem, um a um, se arrastando submissos, pelo chão e ficam aos seus pés acariciando, beijando e mordendo os pés, de uma forma excitante, deixando ela excitada e se contorcendo devido às carícias. No final do clip, mostra que foi um sonho. A música que ela canta, diz algo como, “eu quero você... e beije meus pés” de uma forma bem provocativa. Voyeurismo e Sadomasoquismo, na visão de Freud também é uma associação com um. - Skank “Garota Nacional” Dir: Artur Fontes/ Andrucha Nádegas. O clip apresenta um cliente de costas para nós espectadores e várias mulheres aparecem, uma a uma, dentro da caixa de vidro (Cabine). Indicação clara de voyeurismo e uma cena importante, onde uma das mulheres, colocando meias e outra de preto num sofá com uma corrente na mão, indicando ser uma dominadora sádica. A música é descontraída falando de uma bela mulher e diz que com um olhar ela o domina. Sadomasoquismo. Fausto Fawcett e Falange Moulin Rouge. “Básico Instinto” No Clip, homens estão assistindo um vídeo erótico e a música é um RAP-Rock e a letra faz alusão à atrizSharon Stone, referente ao filme “Instinto Selvagem” em que ela é a protagonista. No clip, temos cenas de violência. Numa cena rápida, uma mulher de botas cano longo preta, calcinha preta e mini-blusa preta, está sentada no vaso sanitário. Outra cena cria a impressão que uma delas está amarrada com as mãos para cima e outra com uma vara na mão, como se fosse chicoteá-la. Nas cenas tem agressão física entre elas, um homem esbofeteando uma delas e uma dando um tiro na testa de outra. Muita carga erótica e violência. Detalhe para uma cena onde a mulher aparece lixando as unhas, cena que se repete no clip de sadomasoquismo explícito do grupo Aerosmith, “Falling in Love is a hard on the Knees” Este clip não é exatamente BDSM, é claro, pois não existe consensualidade, não existe o são e nem o seguro, somente cenas de violência, mas que freqüentam as fantasias de muitos sadomasoquistas. A mulher fazendo suas necessidades no vaso sanitário leva a muitos coprofílicos e urofílicos a se excitarem ao ver tal cena. A Mulher dando um tiro remete a uma prática de sadomasoquismo extremo com uso de armas de fogo. A cena em que a mulher parece estar amarrada remeteria ao Bondage e a cena que parece que vai haver um espancamento com chicotes, leva direto à cena de sadismo. Mas tudo subliminar. Camisa de Vênus “O ponteiro tá subindo” Quem é você? Dir: Machado/ R. Duram. O clip inicia com o cantor com uma corda no pescoço sendo puxado por uma jovem, usando um boné militar preto com uma calça justa preta humilhando e agredindo-o verbalmente. Numa das cenas aparece uma mulher toda de preto, com máscara toda preta usado pelos praticantes SM. O Diretor foi indicado para o Vídeo Music Brasil na categoria Rock e audiência. Este clip nos remete a fantasia que comumente denominamos Dominação/submissão, onde predomina a humilhação verbal e não a dor física Thalia. “Gracias a Dios” En Extasis. Neste clip temos cenas de sadomasoquismo explícitas, pois tudo indica que as cenas dão prazer para o homem que sofre nas mãos da cantora. A cena SM se passa num porão, onde se encontra um homem com os olhos vendados amarrado numa cadeira, Thalia entra com roupa de couro preta e fica alisando o corpo do homem. Ele sem a venda, ela o ameaça com uma navalha de barbear, depois passa creme e faz a barba dele. Rasga sua roupa com a navalha. Com uma mangueira, joga um jato forte de água em seu corpo. Insinua beijá-lo, mas ele vira o rosto, e ela empurra a cadeira com os pés. Ele cai para trás. Noutra cena ele é amarrado pelos pés de ponta cabeça. Numa outra cena, ele está amarrado com as mãos para o alto, ela chega com um sutiã com duas chamas de fogo nos bicos e ascende o cigarro dele. A cena dele vendado, amarrado na cadeira e empurrado pelo pé dela, é semelhante as cenas do filme Lua de Fel, do diretor Roman Polansky. Na letra, ela fala que dá graças a vida e a Deus por estar com ele Ronaldo e os impedidos. “E o nome dela?” Dir Mc Fernades. O cantor está sentado, com as mãos amarradas para trás e garotas vestidas com lingeries pretas e cinta-liga, com salto alto, jogam baldes de água em seu rosto, como um interrogatório com tortura. Barão Vermelho. “Vem quente que eu estou fervendo” Dir: Gringo Cardin. Algumas cenas rápidas, onde uma dominadora vestida de preto e máscara, chicoteia um homem. Supla e Roger. “Encoleirado”. Clip em preto e branco, muito criativo e divertido. Inicia com um diálogo entre Supla e sua namorada pelo telefone. Ele diz que estava pensando em jogar um futebolzinho e depois estava pensando em tomar umchoppinho e ela responde muito brava: - Você está louco? Em seguida começa a música e ela sai com um cachorro pela coleira, indicando que ela leva seu namorado pela coleira, como seu cachorro. No refrão da música, Roger e Supla cantam: - Encoleirado, quase capado. No clip, aparecem várias mulheres sensuais passeando com seu cachorro pela coleira. Close em sapatos de salto alto e pés desnudos de mulher na cama. No clip do Supla faz referências a uma das fantasias do masoquista que é usar coleira de cachorro e ser tratado como um cão. Spice Girls “Say you’ll be there” São cinco mulheres que cantam e as coreografias são imitações golpes de artes marciais. Atirambumerangues e revólver de raio lazer. Dão chutes e socos no ar. Aprisionam dois homens, um na terra, onde amarram com os braços abertos e o outro no teto do carro em que estava dirigindo. No clip da Space Girl fica evidente a referência ao sadomasoquismo, chutes, socos e o bondage “(amarram homens) Barrio Boyzz “Rico” Van a mi. Clip se passa numa boate e aparecem cenas, onde homens de gravata olham através de um aparelho oftalmológico e vê cenas de uma mulher loira dominadora fazendo uma sessão de sadomasoquismo num homem que é humilhado por ela. Mulher toda de preto brilhante de látex, máscara preta nos olhos, com chicote na mão e um homem com camiseta branca e cueca samba-canção sendo dominado por ela, ela o humilha e no final chicoteia suas costas. Lulu Santos “Cadê Você” Anti Ciclone Tropical. Dir: Gringo Cardia. Neste Clip aparecem vários jovens andando pela cidade, procurando alguém. Surgem várias pessoas com roupas pretas ou brancas de couro ou borracha, com máscaras, vestimentas usadas por praticantessadomasoquistas. Uma das mulheres usa mascara com chifres de boi e tetas avantajadas. Closes em botas pretas de salto alto. No final, uma destas de preto, puxa os cabelos de um dos jovens que está ajoelhado diante dela e outra passa baton num dos outros jovens. O Diretor foi indicado para o VídeoMusic Brasil na categoria Pop. No clip do Lulu, além de mostrar roupas usadas por sadomasoquistas, o fato de a mulher passar batom no homem, indica o que falamos sobre uma prática associado ao BDSM que é a feminização. O chifre na pessoa de máscara pode lembrar duas coisas, uma é a mulher dominadora agressiva, como um touro, mas outra coisa é ele representar o “corno”, outra fantasia dos praticantes de BDSM. Rhythm of Saliva “Rhythm of Saliva” J.L.Roadrunner .Dir: F. Kok/I.Van/ Reiner Bruins. Música muito sensual, cujo fundo aparece um som, como se fosse um chicote batendo em algo. O clip é em preto e branco, mostra várias mulheres vestidas de roupas justa preta de látex, uma com desenhos no rosto como se fosse uma teia de aranha. No início, close em uma bota cano longo abrindo o zíper, depois a moça mostra para a câmera, seu pé com meia de seda preta. No clip, mostra uma mulher sentada num sofá, chicoteando outra, que segura o chicote com a boca, no mesmo instante que aparece na música o som do chicote. Um homem aparece preso numa teia de aranha. Madona “Erotica” e “Justify my Love” Cenas de sadomasoquismo explícito. No caso da Madona, teria que ser feito um trabalho especial só para ela, pois ela usa e abusa do erotismo em seus clips. New Edition “Hit me off” Home Again Dir: Joseph Kahn Neste clip de música funk, mostra uma cena rápida, onde uma jovem vestida de preto, com salto alto preto, puxa um homem pela coleira que está sentado numa cadeira e pisa em seu peito. ZZ Top Pincushion. Antena. Dir: Julien Temple. Um clip de Rock que mostra a estória de uma noiva que é deixada no altar. No início do clip, ela entra revoltada no banheiro de sua casa e joga o ramalhete no vaso sanitário. Depois ela pega uma foto dele e todas as agressões que ela faz na foto, afeta ele no mesmo instante. Ele está na cama com outra mulher e sofre todas as torturas que ela faz. Ela enfia facas e tesouras em todo corpo dele, inclusive em seus genitais. Aparece ele no quarto sofrendo as dores e a acompanhante, que provavelmente é uma prostituta, fica tranqüila e começa a se vestir, não se importando com o sofrimento dele. Pega o dinheiro e estoura uma bexiga que está próximo ao rosto do noivo com o salto alto agulha de seu sapato. Fica nítido as torturas. Aerosmith “Falling In Love Is On The Knees” Nine Lives. Sony Music. Dir: Michael Bay. Inicia com uma bela moça, vestindo uma blusa preta, de calcinha, cinta liga, meias pretas. Ela está numa sala muito ampla e segura uma corrente que prende a língua de um homem, que está de camiseta ecueca samba canção, preso numa caixa de vidro. Existe um pequeno orifício, por onde sai a corrente. Ele tenta falar algo para ela, a qual a chama de Miss, mas ela não dá importância. Ele não consegue falar devido a presilha da corrente em sua língua. Um homem está pendurado por fios, vê uma enfermeira que estava conversando com ele, ir embora e ele não poder fazer nada. O homem que está na gaiola, começa a serrar a corrente que prende a gaiola no teto. A mulher senta em cima da caixa de vidro e inicia lixar as unhas. Uma noiva rasga a saia do vestido que o noivo esta segurando e ele rola escada da igreja abaixo.A gaiola cai no chão. Mulheres beijam o joelho ferido. Sadomasoquismo explícito. Este clip é muito importante para conhecer os modos, costumes, indumentárias, enfim, como são os jogos e o imaginário das fantasias dos masoquistas e demonstrar como utilizam a propaganda subliminar para seduzir os espectadores que tem essas fantasias. A frieza da dominadora, o domínio pelo olhar, um “olhar de dominadora” representada da dominadora que fica sobre a caixa de vidro e lixa as unhas. No clip do Aerosmith, é um conjunto de exemplos de práticas sadomasoquistas. Uma das fantasias é se fingir de morto. A presilha na língua indica a impossibilidade dele reagir, implorar e pedir. A caixa de vidro impossibilita ele tocá-la, mas não de ver (voyeurismo) e ele a vê fazendo as unhas, isto indica indiferença dela em relação ao homem masoquista e a outra seria a agressividade dela por estar “afiando as unhas” e de certa forma, estes cuidados são em momentos íntimos, o que aguça o voyeurismo. A cena do homem pendurado por fios e a enfermeira saindo de seu campo visual, indica o total desprezo. O fato de ele estar preso indica a prática do Bondage (prazer em ser amarrado). A cena da gaiola também é outra fantasia recorrente entre masoquistas. A cena do casamento se destaca pelo fato dele estar rastejando atrás dela e depois, quando a saia é rasgada, mostram-se suas peças íntimas (lingerie) provocando os fetichistas. Filmes na Televisão O filme é um dos eventos da televisão e temos um bom exemplo do sadomasoquismo como subliminar no filme passado na televisão, nove e meia semanas de amor, que muitos adoram, por ser um filme romântico e outro por ser um filme sadomasoquista, pois estava implícito no filme, não foi explicito como no clássico Historia d´O, A Bela da tarde, ou Tóquio em decadência. Depois do sucesso desse filme, algumas cenas foram usadas em propagandas comerciais, principalmente a cena próxima a geladeira, onde eles se divertiam, quando ele dava alimentos em sua boca. Citamos aqui um exemplo de subliminar na análise de “nove e meia semanas de amor ” feito por WaldemarZusman (1994) como um exemplo de temática sadomasoquista implícita: Nove e meia semanas de amor (nine ½ Weeks). Dir Adrian Lyne Com Mickey Rourke e Kim Basinger. Nove e meia semanas de um relacionamento onde progressivamente foi se tornando uma transgressão do respeito pela condição humana da mulher, demolição de sua dignidade. O envolvimento erótico era igual à analgesia. A analgesia foi feita pela excitação sexual, que suprimia a percepção do processo doloroso da humilhação. Este processo foi meticulosamente arquitetado por John em nove etapas, daí o nome. 1ª Etapa. Criar ansiedade para obter o domínio sobre ela - Conta estórias de terror no restaurante italiano. 2ª Etapa. Tiranização cruel - A imobiliza numa roda gigante e se afasta - sadismo disfarçado de zelo e generosidade. 3ª Etapa. Exigências de Provas de Confiança - Faz sentir medo juntamente com excitação, reforçado pela relação sexual, numa linguagem Behaviorista – Ele venda os olhos dela, despe-a e pinga gotas de água gelada. Pede para não saber do passado nem dele, nem dela, como uma prova de confiança. 4ª Etapa. Hipnose por sugestão - Ele diz: Todos os dias às 12 horas você vai se lembrar de mim. Ao falar ele encosta o relógio em seu ouvido. Ela se masturba no dia seguinte. 5ª Etapa. Sadismo - Coloca colher de xarope para tosse e pimenta malagueta para ela mastigar, obrigando ela a ficar com olhos fechados no momento da alimentação, como se fosse uma mãe alimentando o filho. 6ª Etapa. Aplicação de castigos efetivos e merecidos - Cria situação onde ela fica só no apartamento dele e ela mexe nas coisas dele. Ele telefona dizendo para ela confessar o “ato não educado” e ela com medo confessa constrangida. Ele volta colérico e manda-a levantar a saia, ficar de frente para a parede para levar palmadas do merecido castigo. Na tentativa de fugir, ele a imobiliza na mesa e a possui com violência. Até este ponto (as seis etapas) ele representa a própria mãe dele e ela representa a ele mesmo quando criança, ele confessa: “Eu me vejo em você” Isto se denomina identificação projetiva descrito por Melanie Klein, onde uma pessoa passa para dentro da outra, fazendo-o idêntico ao que foi projetado em seu interior. A partir do momento que ela invade o mundo dele, o que era secreto passa a ser público e agora passa a representar a relação pai/filho, onde John é o pai e Lizzy o filho. 7ª Etapa. Homossexualismo / Travestismo - Lizzi se veste de homem em público a pedido. Segue-se briga de homens num beco e o roubo de um colar, sugerido por John. Por fim, na cena da compra da cama, ele pede a ela para que se deite com as pernas abertas, tendo a vendedora como testemunha e fala: “Pode abrir as pernas, papai não vai olhar”. A vendedora representa a mãe de John vendo seu marido traí-la. 8ª Etapa. Humilhação e degradação humana - Com chicote em punho, atira várias notas de dinheiro no chão e manda-a pegá-las de quatro e depois rastejando. Quando ela nega, ele ameaça e a chicoteia, mais no chão, que no corpo dela. Isto é a representação da vida dela no mundo dos negócios. 9ª Etapa e última. Infidelidade, Humilhação e degradação máxima - Lizzy com os olhos vendados foi acariciada por uma prostituta que posteriormente se relaciona com John, ela a violenta e em seguida busca vingar-se indo para uma casa pornô e beija outro homem diante de John. Representa a relação entre os pais de John presenciando ou fantasiado por ele quando criança, na qual sua mãe passou por prostituta. A Indústria cultural: A novela Após a revolução industrial no século XVIII, vimos, após a segunda metade do século XIX, uma economia baseada o surgimento de uma economia baseada no consumo de bens e o surgimento da indústria cultural, que só iria aparecer com os primeiros jornais. Outra coisa que surge uma arte para fácil consumo, com uma linguagem mais popular, acessível a todos, traçando de forma simplista o quadro da vida da época e que, aproveitando os “Meios de comunicação de massa” é divulgada e torna-se a “cultura de massa”. Esses termos e esses conceitos dão margens a muita polêmica e controvérsia. Dwight Mac Donald rotulou como cultura superior, produtos canonizados pela crítica erudita. Cultura média; do meio (Midcult) a que remete aos valores pequeno-burgueses e a cultura de massa (mass culture) chamada por ele pejorativamente, de masscult, pois para ele não se trata, nem de cultura e nem de massa. Mas o que na época era o romance de folhetim, hoje é a novela. (Coelho Netto, 1996). Nessa discussão toda, Coelho Netto (1996) coloca a dificuldade de distinção do que é media cultura e cultura de massa e vejamos um exemplo prático relacionado ao nosso tema, o BDSM. A cultura média, seria uma versão facilitada de uma alta cultura, então por exemplo, citamos a obra de Willian Shakespeare “A Megera Domada” um clássico e que foi adaptado para o cinema. Desta forma temos um clássico, que é a alta cultura e um filme desse clássico, que seria a média cultura. Mas ai, desse clássico, fizeram duas novelas, uma a muitas décadas atrás, na extinta TV Tupi, chamado “O Machão” e recentemente, pela Rede Globo de televisão, com o nome de “O Cravo e a Rosa”. Ai vem a pergunta: Essa adaptação é média cultura ou cultura de massa? Polêmica a parte, essas duas novelas têm um personagem que é basicamente um masoquista, o Cornélio, que na primeira versão era casado com uma mulher obesa e terrivelmente dominadora e na versão da Rede Globo, o Cornélio era casado com uma mulher cínica e dominadora, Dinorah e que, como o nome indica, traia o marido. Mas não é somente essas cenas que levavam a fantasia dos sadomasoquistas, Julião Petruquio era um fazendeiro que tinha que casar com a filha de um banqueiro para saudar a dívida de sua fazenda hipotecada com o dote que iria receber e a mulher era uma fera e para tanto, teve que aceitar todas as exigências que a mulher fazia como condição de casar com o “Casca grossa” como ela o xingava. Desta forma, ele teve que ser o cavalo da charrete e ela o chicoteava em plena rua da cidade, ele teve que ser cozinheiro dela e servi-la e uma série de humilhações. Da mesma forma, a Dinorah que quando foi flagrada com seu amante, teve que trabalhar como arrumadeira de um hotel onde o Cornélio era hóspede e teve que ser a empregadinha do ex-marido. Quando se reproduz novela da época colonial, Escrava Isaura, Xica da Silva, etc. ou séries como a recente “O quinto dos infernos”, as cenas de torturas ou de chicoteamente nos escravos, ou nos não escravos, como o pai de Dom Pedro I chicoteando seu filho não deixa de excitar pela forma realista das filmagens. Reportagens sensacionalistas. A televisão é um dos meios utilizados para a divulgação dos produtos produzidos, pelo que chamamos de Indústria Cultural e sobre esse assunto, Umberto Eco (1976) analisa dois grupos que tem visões diferentes sobre isso, os “Apocalípticos” que vêem a indústria cultural capaz de produzir ou acelerar a degradação do homem, isto é, a alienação e outro grupo, os “Integrados”, que consideram que a Indústria cultural divulga e revela para o homem as significações do mundo em grande velocidade devido a tecnologia e a forma democrática. Recentemente tivemos programas de reportagem, ditas sérias, que apresentaram o BDSM e foi alvo de muita critica e controvérsia. Crítica pelos praticantes, que disseram que só se mostrou o lado negativo, perverso e doentio do sadomasoquismo e satisfação para os que nunca tinham visto cenas de sadomasoquismo, mas tinham curiosidade de ver. Daí julgar se foram boas essas reportagens ou foram ruins para a divulgação do BDSM na mídia, é estar entre os “Integrados”, aqueles que acreditam que a indústria cultural mostra o que realmente existe ou os “Apocalípticos”, que acham que estão essa indústria aliena o homem, mostrando cenas que não tem nada a construir, e sim a denegrir a imagem do BDSM. O “Repórter SBT” apresentado por Marília Gabriela teve como um dos temas, o sadomasoquismo. Neste programa, foram apresentados vários eventos relacionados ao sadomasoquismo, tais como um show com duas atrizes, onde uma amarra a outra e fazem uma cena ao público, mostra também um casal de namorados, onde o namorado é “escravo” dela e ela, com uma máscara escondendo o seu rosto, o humilha, querendo demonstrar como fazem as cenas na intimidade. Também tem as vídeo-locadoras que aluga filmes de sadomasoquismo e finalmente apresenta uma cena onde uma dominadora profissional, Sueli, feminiza seu cliente, com seu rosto escondido por uma meia preta, que se diz empresário, e segue um “script”, iniciando com a adoração dos pés da rainha, depois humilhações, bondage e nessa hora a profissional diz que deixa ele amarrado e vai fazer compras, ignorando o escravo, depois volta e mais humilhações. Outro programa que teve o mesmo roteiro foi o extinto Documento Especial, que era apresentado na rede Manchete de televisão e transmitiu um especial sobre sadomasoquismo, onde apresentou uma profissional dominadora em plena ação, com um cliente num quarto de motel. Ela vestida de blusa de couro, saia e botas tudo de cor preta. Ele de coleira e cueca. Ao entrar no quarto, trazendo ele pela coleira, mandou se ajoelhar e beijar suas botas. Tirá-las devagar, ficar de quatro. Ela sentou em cima dele e mandou latir como um cachorrinho. Depois ficar em pé em cima da cama e rebolar. Batia nele, em seu rosto. Deitou-o na cama e beliscava com um aparelho feito para isso. Depois se deitou na cama, mexeu em seu pênis com os pés, mandou tirar a sunga e se masturbar. No final disse que os clientes gostam que batam em sua cara, que “transem” com ele, mas ela nunca “transa” com escravos. Lá fora “dá uma de macho” e aqui dentro, beija meus pés. A repórter pergunta: - o que tem de bom em ser dominado? - É um carinho. O Jornal Folha de São Paulo, no dia seguinte, critica esses comentários. Que é um absurdo achar um carinho em apanhar. No final do programa, mostra uma boate voltada para isso e a cena com a dominadora é feito num palco ao vivo. Neste programa aparece uma entrevista exclusiva com a jornalista e escritora Wilma Azevedo, ela aparece toda de preto, roupa típica dos adeptos, e com máscara no rosto. Ela explica que a dominadora não é aquela pessoa que bate no parceiro, simplesmente para causar dor, mas sim um jogo, onde ambos têm prazer. Existe uma diferença em causar o prazer e a dor e a maldade. Em seu depoimento ele disse que entrevistou uma profissional dominadora e ela disse: Eu tenho ódio dos homens e quando eles vão ao meu estúdio eu bato mesmo. Wilma fala que não é nada disso. Outro tipo de programa que se pretende ser visto como sérios, são os de entrevista. Jô Soares entreverou Wilma de Azevedo no lançamento do livro “SM sem medo” e entrevistou também Sara Domina, na época, uma dominadora profissional do Rio de Janeiro, onde ela aparece com um véu escondendo seu rosto. Outro programa de entrevista onde foi debatido o sadomasoquismo foi Silvia Popovic. BDSM na televisão Paga O Programa Sex bits foram produzidos pela TV HBO dos EUA e passava todas as sextas as zero e trinta horas. Falam do sexo exótico em geral, não especificamente de BDSM. No programa número 2, fomos mostrados o fetichismo por pés, com depoimentos e depois sobre o sadomasoquismo. No dia 06 de junho de 1997, foi apresentado o programa de número 3, onde mostrou um serralheiro que fabrica gaiolas de ferro, Roda do infortúnio e outros aparelhos, baseados nos aparelhos utilizados pela santa inquisição da idade media, produzida para a comunidade fetichista e para a comunidade sadomasoquista, diz que fica contente colocar sua arte para satisfazer as vontades dos adeptos. Uma das usuárias, que está presa em uma gaiola que ele denomina de abacaxi, diz que gosta de sentir-se uma coitada aprisionada. Neste mesmo programa, mostra uma estilista dos EUA que produz roupas sadomasoquistas, espartilhos, camisolas, faz desde a menor das saias até vestidos longos. Ela gosta de usar Látex, pois fica bem justo e marcam o corpo da mulher, as suas linhas. No seu depoimento diz que “a sociedade vê a moda fetichista como arcaica, decadente e rude e ela quer mudar isso. Ela tem página na Web (Internet). Num outro programa, apresentado no dia 04 de julho de 1997, foi entrevistado uma “dominadora”, uma mulher de programa que representa uma sádica para clientes sadomasoquistas com tendência masoquista. Uma jovem negra estava com vestido curta preto, um pouco obesa, mas com um rosto muito belo. Seu depoimento: “Fiz sadomasoquismo com vários namorados e com outros por dois anos. Sou dominadora profissional há 10 meses. Todos têm um lado dominante e outro submisso. Eu gosto de prover muita dor”. Ela dominou um casal jovem, ambos loiros, amarrou e chicoteou ambos. Derramou cera derretida em seus corpos. Pede que a cada chicotada eles miem como gatos. Ambos a tratam como Mrs. Ambos dão seu depoimento, a loira inicia: “Sou a típica mulher americana. Sou secretária numa firma. Sempre tive fantasias com isso, não sei bem como explicar. É como vários fogos de artifício explodindo no corpo e cada um dá uma sensação diferente. Somos submissos. Seremos quem realmente tem o controle. É assim, os dominadores são os que controlam. Ela (dominadora) tenta nos satisfazer de alguma maneira e vemos até onde ela pode ir.” A dominadora continua: “Muitos americanos temem o prazer, o desejo, a luxúria. Quero ajudar as pessoas a perceberem que fazer coisas pervertidas pode ser bom e excitante”. Conclusão Em nosso trabalho, identificamos muitas imagens na televisão com conotação fetichista e sadomasoquista, de forma explícita ou implícita (subliminar) e que exige um olhar treinado para desvendá-lo. A maior parte das mensagens dirige-se às pulsões eróticas, apresentando conteúdo sexual, podendo se afirmar que elas se dirigem ao cérebro reptiliano (Id), visando uma motivação física ou fisiológica. Os olhos podem não ter visto, mas o coração reage emocionalmente ao sinal subliminar. O maior exemplo disso são as propagandas de cerveja que fazem uma correlação a garrafa da cerveja com o corpo quase nu da uma mulher de corpo escultural. Mas será que não se usa cenas BDSM para também estimular e excitar os praticantes de BDSM e associá-lo ao produto, erotizando esse produto? Explicitamente é correto afirmar que, pelo menos na televisão não, exceto uma propaganda da Bombril onde o ator Carlos Moreno aparece com um porquinho com máscara de Dominador. Seria forçar muito em afirmar que foi baseado em cenas de BDSM, se foi ou não, tem certas cenas que chegam a excitar, se foi pensado ou não, nunca saberemos, mas que pode ser subliminar, isso pode e dessa forma eu poderia citar infinitas propagandas em que existem cenas de humilhação, ou tortura que implicitamente remete a fantasia sadomasoquista, mas ficaríamos no “pode ser” ou “não pode ser” e por isso quero abordar somente aquilo que realmente é cenas de BDSM explícitas na propaganda e isso se encontra basicamente nos Vide-Clips tanto nacional como no clips americanos, já que video-clip é a propaganda para se vender o CD e desta forma, podemos concluir que o BDSM é sim, usado como forma subliminar para excitar o consumidor que tem tendência BDSM a se estimular com a música e comprar o CD, nada mais. Não existe nenhum clip que leva o BDSM como uma arte ou algo corriqueiro. Nos vídeo-clips, o BDSM é colocado apenas como um estímulo e não contribui em nada para a divulgação e a aceitação. Pior ainda a Tiazinha, quando protagonizava uma dominadora e que destruía a imagem de uma dominadora séria, cantando e rebolando diante das câmeras de televisão. Dos programas de reportagem, que pretendem ser um documentário para desmistificar o sadomasoquismo, acaba promovendo vídeo-locadoras eróticas, profissionais do sexo, isto é, o comércio que envolve o sadomasoquismo e aumentar seu ibope usando o BDSM como algo sensacionalista, algo excepcional e o pior, o fato de ser tudo demonstrado como algo proibido, implícito no fato das pessoas terem que esconder seus rostos com máscaras, além dos comentários irônicos dos jornalistas, o espanto com tais cenas, joga o sadomasoquismo como proibido. Mesmo no programa exibido nos EUA pela HBO, basicamente se mostrou o comércio no mundo BDSM, o vendedor de artefatos e aparelhos, a profissional do sexo, e não se falou na da liturgia BDSM, das regras, das normas, do são seguro e comercial, apenas o comercio, como se as dominadoras reinassem absolutas no mundo BDSM. Nas novelas, o BDSM é domesticado, não é explícito, não é percebido, somente subliminarmente. Desta forma, concluímos que o BDSM é apenas usado nos meios de comunicação, ainda não tivemos um programa que pudesse esclarecer, que pudesse acrescentar e divulgar como uma prática sadia, consensual e segura, pelo contrário, cria-se mais preconceitos em cima do assunto. Bibliografia COELHO NETTO, J. Teixeira, “Moderno pós-moderno”, SP, Ed. Iluminuras. 3ª edição, 1995. COELHO NETTO, J. Teixeira, O que é indústria Cultural, SP, Brasiliense, 1996. ECO, Umberto, Apocalípticos e integrados, SP, Perspectiva, 1976. CALAZANS, Flávio, Propaganda subliminar multimídia, SP, Summus, 1992. DURANDIN, Guy, As mentiras na propaganda e na publicidade, SP, JSN, 1997. VALAS, Patrick; Freud e a Perversão, RJ, Zahar, 1994. ZUSMAN, Waldemar, Os filmes que vi com Freud, RJ, Imago, 1994. Jornal Folha de São Paulo do dia 13 de setembro de 1998. Autor: Sacher |
sábado, 16 de abril de 2011
O BDSM e a Televisão
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