As escadas estavam empoeiradas. A luz era fraca e por milagre estava funcionando. Eu ia na frente segurando uma corda e K me seguia. Ela parecia amedrontada. Entrei no porão e afastei alguns móveis antigos para ganhar mais espaço. Olhei para a viga no teto e joguei a corda por cima dela. K olhava para todos os lados.
“Está preocupada com alguma coisa?”
“Baratas! Eu morro de medo.”
“Prometo que não coloco nenhuma na sua perna.”
“Sem graça.”
Continuei meu trabalho. Fiz uma espécie de laço com a corda e mandei que K colocasse os braços unidos pelo vão que se formou. Ela estava com um certo receio. Parecia que não estava se sentindo bem no porão. Eu não quis saber. Puxei a corda e a prendi num gancho de ferro que havia na parede. Os braços de K ficaram presos no alto. Em seguida, tirei a sua saia, a sua calcinha e rasguei sua blusa. Ela ficou nua. Tirei o meu cinto e lhe apliquei três cintadas seguidas. Ela gritou bem alto.
“Aqui você pode gritar à vontade. Ninguém vai te ouvir mesmo!…”
Apliquei mais algumas cintadas. Ela gritou e se contorceu. O seu corpo branco ficou logo marcado pelas cintadas. Eu me aproximei e delicadamente beijei cada tira vermelha que se desenhava na sua pele. Eu sentia meu coração naufragar num mar de nuvens. Parecia que estava ouvindo antigas canções de poetas esquecidos. Beijei ainda mais alucinadamente a sua boca. Fiz juras de amor e K derramou as suas conhecidas lágrimas.
“Não sei por que o senhor me emociona tanto, não sei mesmo…”
“Você é capaz de dizer isto depois de levar várias cintadas no corpo, sua puta?”
“Não foram as cintadas: foi o beijo e as palavras.”
“Sei.”
Virei as costas e depois me voltei rapidamente pra ela descarregando várias cintadas violentas no seu corpo. Ela gritou até não agüentar mais. Em nenhum momento, clamou por piedade.
“Ainda fica emocionada?”
“Sim. Ainda mais.”
“Vamos ver… até quando…”
“Pra sempre, meu senhor. Pra sempre!”
Eu me dirigi para a escada. Ela tentou se virar:
“Não me abandone aqui, Mestre. As baratas…”
“Foda-se!”
Eu apaguei a luz e subi rapidamente a escada. Corri pelo quintal e abri a porta de casa. Eu acendi as luzes e caí no sofá. Não sei porque lágrimas brotavam sem parar dos meus olhos. “Maldita, puta fodida com seu amor, com sua adoração. Sua cadela ordinária, tarada, pervertida…”
Parei com as lágrimas e os xingamentos. Eu olhei ao redor. Eu tinha morado naquela casa toda a minha infância. Depois que minha mãe se mudou para outra cidade, eu fiquei tomando conta do lugar. Eu pagava uma mulher para limpá-la e de vez em quando, eu abria a casa para que o ar ventilasse e o sol entrasse.
Eu nunca imaginei que prenderia K no porão. O mesmo porão onde eu brincava e imaginava mil loucuras que só um cérebro infantil era capaz de imaginar. Na verdade, eu continuava com um certo infantilismo: eu continuava querendo destruir meu brinquedo predileto. K era o meu brinquedo.
Eu me levantei e fui até o meu antigo quarto. Abri os armários, as gavetas e vi que tudo estava entulhado com roupas velhas e inúteis. Depois me cansei e voltei para o quintal. Havia uma lua cheia que iluminava a piscina vazia. Nunca mais a enchemos de água. Ao longe, os gritos de K pareciam um murmúrio. Um doce murmúrio como esta lembrança da infância que não se apaga.
Voltei para o porão. Abri a porta lentamente e depois acendi a luz.
“Paul!”, ouvi K dizer chorosa.
Eu desci a escada e me sentei numa cadeira ao lado dela.
“Por que o você faz isto comigo?”
“Você me chamou de você, sua puta?”
“Perdão… o senhor…”
Eu me levantei. Olhei para os pulsos de K.
“A corda está frouxa. Por que não me avisou?”
“Eu não sei. Eu quis apenas obedecê-lo.”
Apertei a corda. Ela gritou. Voltei a me sentar na cadeira. Olhei para o corpo de K, percorri cada centímetro, dos calcanhares até a sua nuca. Depois vi em cima de um caixote, um pedaço de borracha. Sorri com uma idéia perversa. Peguei o cano de borracha e mostrei para K.
“Nunca te bati com um cano de borracha, não foi?”
“Por favor…”
“Não foi?” “Foi. O senhor nunca me bateu com um cano de borracha.”
Senti que meu coração ficou acelerado. Ela esperava. Eu esperava. O mundo lá fora esperava. A lua esperava. O cheiro de mofo, os caixotes, o vazio da existência. Tudo aquilo culminou num único momento: quando minha mão, apertando o cano de borracha, desceu violentamente nas coxas de K.
A dor foi tão intensa que ela tentou escapar das outras borrachadas. Foi inútil. E seu gritos de dor, seus gritos pavorosos, verdadeiros gritos medonhos de dor, não abrandaram meu coração. Muito pelo contrário. Tornei-me ainda mais violento. Quando parei, segurei a cabeça de K. Ela estava ofegante de tanta dor. Olhei os seus pulsos e estavam vermelhos:
“Por que você não pede piedade?”
“Porque eu quero servi-lo. Se o senhor está feliz por me tratar desta maneira, eu me sinto feliz por ser útil a sua felicidade.”
“Um dia, vou te fazer implorar por piedade. Ah, se vou…”.
Tirei a corda dela. Depois segurei seu corpo dolorido e o beijei. Beijei com a calma de alguém que beija uma mártir. Coloquei-a deitada de costas no chão. Aquele chão empoeirado e encardido. O sublime ficou ainda mais evidente naquele momento. E sem o menor carinho, lhe dei uma mordida fortíssima no lugar que bati com a borracha.
K deu um pulo e fez uma careta horrível.
“Por que o senhor me maltrata tanto? Por que?”
“Eu quero testar a resistência da sua paixão, da sua submissão.”
“Eu sou uma cobaia, senhor, apenas isto?”
Eu a peguei pelos cabelos e beijei seus lábios novamente.
“Você é a realização dos meus sonhos mais profundos. E é isto que me causa medo. Eu não quero ser engolido por um sonho.”
“Então… só resta o senhor me estuprar. Não há sonho que resista a um estupro.”
Eu sorri. Um sorriso que nasceu do lado negro do meu ser. Eu virei K de bruços. Tirei meu pau pra fora e tentei enfiá-lo na sua bunda. K estendeu os braços e fechou os olhos. Eu não estava conseguindo ficar excitado, mas quando ouvi o que ela murmurava de uma maneira quase inaudível, fiquei tão enlouquecido que comecei a enrabá-la sem conseguir mais parar.
K murmurava:
“Me estupra, papai, me estupra…”stupra, papai, me estupra…”
sábado, 30 de julho de 2011
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Divino!! **aplausos**
ResponderExcluirLindo o conto!
ResponderExcluirParabéns pela sensibilidade
das palavras
rss....tambem achei lindo. Ainda mais por voces teem gostado...bjs
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