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quarta-feira, 6 de julho de 2011

VISITA

O quintal de pedras e os antigos canteiros
ainda estavam lá – “campo de futebol”.
Mas sem as plantas e sem estarem cobertos
pelas sombras estampadas das videiras.
Sem os pardais e sem os doces frutos dos
mamoeiros – somente o rachar do sol.
Sem os sanhaços azuis da bela figueira e
sem as cambuquiras e flores da aboboreira.
Sem os gengibres do quentão de junho e 
sem o limoeiro e o florescer da laranjeira.


Já não havia mais aquela sombra fresca
da velha mangueira – nem o fiel vira-lata.
Mas o seu tronco seco ainda estava lá, antiga
“trave”, que serviu de brinquedo à criança.
Lá o menino chutava a bola de capotão,
atrás da feitura de mais um gol – de placa.
E corria aos gritos e abraços fictícios em 
seus leais companheiros ocultos de infância.
Lá o menino deu linha ao pipa e descobriu 
num céu azul, um futuro de esperança. 

E a aconchegante cozinha do fogão de lenha
ainda estava lá – “chaminé de manilha”.
Mas... e as latas de ferver os brancos lençóis?
E as panelas de cobre com os caldeirões?
E as lenhas e o fogão? E as folhas de louro
para o tempero – do feijão e da lentilha?
Onde estavam a chaleira de ferro, o bule e
o aroma do café da tarde com os pães?
E o bolo de fubá e a broa com sementes
secas de erva-doce?... E a minha mãe...?

Ah! Restou ainda o quartinho de tralhas que
amarelou por lá – isolado aos fundos da casa.
Mas... e as tralhas? E o lampião de carbureto e
os anzóis? E o embornal com os lambaris?
E o baú com ferramentas vindos da Itália?... 
Só restara um marimbondo – a zumbir as asas.
E a bicicleta preta? E as sementes do rosário? 
Meu Deus, que visita!... Que saudades... ai,ai.
E a rede do velho? E o caixote de
pinho para
picar o fumo de corda?... E o meu pai...?

(A todos aqueles que por algum detalhe ou semelhança, 
tiveram a dádiva de recordar e poder sentir boas saudades,
pois só sente boas saudades quem um dia foi amado na infância.)

Mauro Martiniano
 

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