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terça-feira, 15 de março de 2011

Masoquismo e romantismo, a capacidade mágica de erotizar o planeta.
Sádico
Sabemos que a sexualidade humana é humana na medida em que nos afasta da função da reprodução. Iidentificamos o prazer sexual com este afastamento - quanto menos animal, mais prazer.

Um desses afastamentos nos interessa particularmente: a capacidade de erotizar o planeta.

Só nós humanos podemos fazer isto, e apenas dois estilos de erotismo o fazem de maneira sistemática e consciente: o Romantismo e o Sadomasoquismo.
Senão, vejamos.

Quando o romântico recolhe no alto do morro uma flor para sua amada, empresta àquela flor o poder de falar por seu amor. Quando a amada leva a flor consigo, a deposita dentro de um livro de cabeceira, olha lânguida para ela antes de dormir, imantou a flor com o seu amor, com o seu amado; ou ainda, recebeu e aceitou a simbologia que o amado inventou. O casal foi capaz de extravasar seu amor, seus desejos, seu erotismo para o resto do planeta, para os objetos - qualquer objeto: roupas, presentes de todos os tipos, o guardanapo do restaurante onde ele/a me disse "sim". Tudo está à disposição e é utilizado para representar, expandir, re-significar o amor e o desejo do casal.

Ao contrario do romantismo, no sadomasoquismo o uso de objetos variados é portador de um certo preconceito, principalmente pela falta de conhecimento de sua função (e diga-se de passagem que por vezes o preconceito assalta inclusive os praticantes do bdsm).

Mas o que ocorre aqui é exatamente a mesma coisa que ocorre com o romantismo. Ao penetrar sua parceira com um objeto comprado em um sex-shop (eu particularmente prefiro adquirir estes brinquedinhos no supermercado da esquina), ao comprar e utilizar um chicotinho, ao utilizar lenços ou cordas ou fios para amarrar o parceiro.
Vis a vis à pratica de ser amarrada/o, de apanhar com chicote ou palmatória, de ser penetrada por um socador de caipirinha. Ambos, senhor/a e escrava/o estão erotizando o planeta à sua volta, seus afetos, seus desejos. Seu tesão agora se espalha pelos objetos da cena, da casa, do planeta. Uma/um boa/m escrava/o se excita ao entrar no supermercado onde buscou brinquedinhos com seu/sua dono/a. Um/a bom/a senhor/a idem. Os amantes trocam olhares lascivos ao enxergar um destes objetos quando estão andando pela rua.

Se isto não é visto assim, é graças à duas confusões teóricas encontradiças nas ciências humanas - na psicologia e na economia.

Na psicologia, desenvolveu-se a noção de fetiche, advinda da psicanálise. Ocorre que este conceito significa a substituição do objeto erótico pelo objeto, digamos, inanimado. Se eu gosto de calcinhas de mulher ao invésda mulher mesma, então estou fetichizando (a palavra vem de feitiço, ou seja imantar as coisas das propriedades que elas não tem). Vai daí que se confundiu a propriedade humana de humanizar o mundo, com a patologia de substituir o mundo humano pelo mundo das coisas.

E na economia, especificamente na economia política, Marx importou a mesma noção para denunciar a alienação da mercadoria, onde os homens passam a idolatrar os bens, outra vez, no lugar das pessoas.

Com isto, infelizmente, perdemos a possibilidade de admirar este feito maravilhoso da consciência humana - a capacidade de abranger o mundo com nossos sentimentos, de emprestar às coisas o nosso modo de ver e de sentir. Por isto o romântico é ridicularizado e o sado-masoquista execrado quando usa objetos para demonstrar, simbolizar, mimetizar o seu amor, o seu desejo, o seu tesão. Mas se a consciência execra a pratica, o corpo a sacramenta, as glândulas reagem, e os mamilos apontam da mesma forma quando uma mulher romântica enxerga uma flor ressecada ou quando uma escrava acaricia um chicote.

Eis uma das boas razões pelas quais romantismo e sadomasoquismo são modos tão intensos de amar, tão apaixonantes, tão radicais: Ambos tem a propriedade de vestir o planeta com o seu amor, de colocar o mundo a serviço de seus sentimentos, de exercer com plenitude o que os humanos temos de mais humano.
Sádico

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