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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

"VERMELHO"


Vermelho é o som dos eternos outonos mortos Quando, ao cair do dia, pássaros namoram rubis
E gritos transbordam nos cárceres privados.
E os loucos como eu vomitam odes
E se banham em ouro e carnavais de rua.
Ah, os intermináveis discursos moralistas,
Os abusos do poder televisivo,
As decapitações de cada longo dia... Poesia
É o que eu deixo, é tudo o que posso deixar.
Faço fraca poesia como quem ronca
Nas noites de amor fracassado.
Os dias primaveris: recrio-os
No fundo falso dos meus desencantos.
Os dias de paz, e descanso, os recrio
Em algum lugar da memória—ilusória memória—
E escrevo as banalidades
Que a velhice aprendeu a esquecer.
E enterro a minha infância
No túmulo raso da fé.
E o riso fingido borbulha, anônimo,
Numa poça de odores contrariados
Perto de uma cruz sem nome.
Funâmbulos no parque, eis o que somos,
O que podemos ser, olhos desbotados,
Corações insanos, garganta seca, e dádivas
Precariamente oferecidas em bancos de praça orvalhados.
A cidade chora baixinho, lágrimas esparsas
Brotam do meu nariz inchado, e
A chuva que se despeja é só para acariciar
A impaciência do meu sono de infeliz
Fritando ovos no asfalto das desilusões...

CRÉDITOS: MAXIMILIANO ROSA

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